Yeshua ressuscitou e vive para sempre

Yeshua ressuscitou e vive para sempre

9 de junho de 2015

A Identidade do Messias e os Falsos Ensinos

por Matheus Zandona
Sabemos que muitos grupos isolados, supostamente ‘judeus-messiânicos’, não estudam e não dão a devida autoridade à Torá e ao ensino Apostólico. São pessoas que nunca foram discipuladas, orientadas e guiadas por outros judeus messiânicos. Tal isolamento produz uma forma de “pseudo-judaísmo”, com práticas e doutrinas estranhas em todos os aspectos, incluindo o judaico. O que sabem de judaísmo é proveniente de livros e do Google, não tendo eles nenhum senso de realidade e convívio com outros judeus. “Viram” judeus da noite para o dia, lêem tudo o que conseguem na internet e no Wikipédia, e se acham mais judeus do que os verdadeiros judeus. Tudo isso, novamente, é conseqüência da falta de discipulado e convívio com judeus autênticos e de boa reputação tanto nos meios judaicos como nos meios messiânicos. Perante à comunidade Judaica tradicional, esses grupos são vistos com estranheza e repúdio. Não foi à toa que Yeshua nos ordena a fazermos TALMIDIM (discípulos), pois tal ação requer convívio e relacionamento. As “anomalias” que tem surgido nos últimos anos provenientes de ex-evangélicos que viram “judeus googlianos” poderiam ser evitadas com uma boa dose de bom senso, bom testemunho, discipulado e convívio com pessoas autênticas e com fruto para mostrar. Este artigo procurará demonstrar a todos o quão distantes estes grupos de “super-judeus” estão da Torá e do verdadeiro judaísmo, os quais nos foram mostrados por Yeshua e por seus talmidim.
Para começar, vamos ver uma admoestação apostólica em relação a pessoas que acham que entendem a unicidade de Deus e ficam satanizando e demonizando irmãos que aprenderam e creem no dogma niceniano da “Trindade” (não estamos aqui justificando nem propagando esta doutrina, apenas expondo um espírito hipócrita que ronda esses grupos militantes de anti-trinitarianos):
“Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem e tremem!! Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante? Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente”. (Tg 2:19-24)
Pois bem, mais uma vez NÃO ESTAMOS AQUI DEFENDENDO A TRINDADE criada no séc. IV d.C. Porém, é hipocrisia e arrogância um grupo que acha que entende a unicidade do Eterno (o que, por seus estudos, temos 100% de certeza que não entendem!!), ficar menosprezando, marginalizando e FAZENDO DE INIMIGO tudo e TODOS os que aprenderam de outra forma. SIM, cremos piamente que precisamos trazer mais clareza e entendimento em relação à natureza de D-us e Seu Ungido nos meios teológicos cristãos, porém, cremos também que este ensino deve vir acompanhado de AMOR, EXEMPLO, FRUTOS e TESTEMUNHO de vida! Assim nos ensinou Yeshua. A autoridade não vem do conhecimento apenas, mas também da conduta! Foi contra este tipo de arrogância e cinismo que o irmão de Yeshua, Yaakov (Tiago), escreveu o texto que citamos acima. Yeshua nos ensinou que TODA a Torá depende do Shemá (Dt 6:4) e do tratamento ao próximo (Lv 19:18). Esses dois mandamentos andam LADO A LADO. Adianta achar cumprir o Shemá e chamar todo mundo de ‘filhos da babilônia’, ‘idólatras’, ‘pagãos’ e coisas do tipo?
Por acaso apenas a crença na unicidade de D-us pode salvar ou justificar alguém? Pois que fique claro a todos os simpatizantes e membros dessas seitas pseudo judaico-messiânicas:
NÃO CRER NA TRINDADE NÃO SALVA, NEM JUSTIFICA PERANTE O ETERNO!!!!
Apenas quando a fé é aliada à um testemunho e amor verdadeiros, ela pode alguma coisa. Sem obras, a fé é inoperante para justificação! Yeshua nos ensinou que devemos ser intolerantes em relação a DUAS coisas: 1º PECADO, 2º HIPOCRISIA!
O judaísmo tem uma visão muito diferente da visão destes grupos em relação à DIVINDADE do Messias. No judaísmo chassídico, por exemplo, nos dias onde o sábio Menachem Schneerson ainda atuava nos meios Chabad, cria-se entre muitos de seus seguidores que ele era o Messias prometido pelos profetas de Israel (e ainda hoje muitos assim acreditam). Assim, uma vez que ele (Schneerson) assumiu tal postura, toda a conduta de serviços e orações nas sinagogas em que ele comparecia foi alterada. Orações eram feitas diretamente a ele. Serviços litúrgicos onde centenas de judeus chassidim ficavam dançando e cantando ao redor de sua “kissê moshê” durante horas, eram realizados em vários lugares. E ainda, nos dias do polêmico Shabatai Tzvi (séc XVII), que foi aclamado como Messias por milhares de Judeus da Europa e Ásia Menor, a adoração e culto à ele eram tão expressivos, que até mesmo os livros de oração da Comunidade Judaica de Amsterdã (Sidur) foram alterados para incluírem orações de louvor a ELE, quando estivesse presente em algum serviço. Perguntamos: será que algum outro judeu sequer acusou o movimento chabad de ‘idólatra’ por orarem e adorarem publicamente ao Schneerson? Será que algum judeu europeu foi considerado ‘idólatra’ por tratar Shabatai Tzvi como sendo “D-us entre o povo”? Por que, pela halachá judaica, não ferimos a unicidade do Eterno ao reverenciarmos e adorarmos o Mashiach como D-us? Por que esses falsos judeus messiânicos também não declaram guerra ao movimento chassídico?

Poster do Falecido rabino Schneerson nas ruas de Jerusalém. O texto diz: "Vive o Rei Messias".
Precisamos aprender como a Tanách e o judaísmo tradicional enxergam o Messias. Esses grupos extremistas presentes em nossos dias assumiram uma postura perigosa, desprovendo Yeshua (o verdadeiro Mashiach), da PLENA representação da divindade do Eterno. Vejamos o seguinte ensino do rabino Shaul (Apóstolo Paulo):
“…porquanto, nele (YESHUA), habita, corporalmente, TODA E PLENITUDE da Divindade.Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade”.(Cl 2:9-10)
Ou seja, Ele (Yeshua) não é o PAI, mas veio do PAI, possui a mesma natureza do PAI e representa o PAI a nós 100%. Ele é o único caminho, o único mediador. Através dele compreendemos o Eterno e nos relacionamos com Ele. Nem mesmo no judaísmo tradicional se despreza tanto a divindade do Mashiach como nestes grupos de falsos (ou “super”!) judeus-messiânicos. O Mashiach é tratado como D-us NO JUDAÍSMO TRADICIONAL pois representa D-us aos homens, e segundo a regra do apostolado (Shlichut), o enviado é 100% igual àquele que o enviou, perante as pessoas objetos de sua missão.
Dessa forma, o judaísmo entende que ao mesmo tempo onde há igualdade, também pode existir hierarquia, e por isso a unidade de D-us jamais é ferida. Mais uma vez, Yaakov (Tiago) nos ensina que a crença na unidade de D-us é importante, MAS NÃO SALVA NEM JUSTIFICA POR SI PRÓPRIA! Porém, uma conduta e um mau tratamento para com o próximo, condenam e desqualificam o justo. É exatamente isto que Yaakov tentou alertar aos gentios que estavam ‘descobrindo o judaísmo’ e se deslumbrando com o “Shemá”, mas esquecendo-se do amor ao próximo e do ensino com amor e exemplo. Portanto, estes grupos sectários deveriam estar menos preocupados com a “fé monoteísta” e mais preocupados com o estrago, divisão e sectarismo que tem criado entre o Corpo do Messias.
O Judaísmo é sim muito dogmático em relação ao Mashiach. Na doutrina Judaica, O Messias não é apenas o ‘grande profeta’ prometido na Torá, nem é apenas o ‘enviado’ de YHWH, nem simplesmente o “Filho de Elohim”. Na posição que assumiu de REPRESENTANTE do ETERNO (esta é a função do Mashiach no Judaísmo), ele é YHWV perante nós homens (Is 7:14 – mais uma vez, LEIAM as referências que comprovam os pontos elucidados). Sua missão (Messias) é representar o Eterno plenamente à nós (Cl 2:9). Vejam como os profetas de ISRAEL tratam o Mashiach:
“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra.Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: יְהוָה׀ צִדְקֵנוּ׃ YHWH, Justiça Nossa”. (Jr 23:6).
Um exemplo simplório, mas que consegue ajudar muitas pessoas a entenderem este conceito judaico da representatividade (Shlichut) é o seguinte:
O vice-presidente, é presidente? A resposta judaica à essa pergunta é: Sim e Não!
Sim! Pois quando incumbido pelo presidente para representá-LO em cerimônias, solenidades ou qualquer atividade oficial, ele representa 100% o presidente. Ele é tratado como se fosse o presidente e tem a autoridade presidencial para tal. Na posição de representante, sua assinatura equivale em gênero, número e grau à assinatura do presidente. Quando está representando o presidente, não há diferença alguma entre os dois! 
Não! Pois sua autoridade existe apenas pois foi outorgada pelo próprio presidente. Ele (vice) responde e se submete ao presidente, apesar de representá-lo 100% perante a sociedade. O vice recebe sua autoridade e seu poder do próprio presidente. Ele não faz nada sem o aval do presidente e todas as suas decisões estão em consonância com a vontade presidencial. 
É ISSO QUE OS PROFETAS E A TORÁ QUEREM DIZER QUANDO AFIRMAM QUE PODEMOS TER IGUALDADE E HIERARQUIA AO MESMO TEMPO ENTRE O ETERNO E SEU UNGIDO!!!
Este é o perigo das seitas que não entendem a concepção judaica que se tem do Mashiach, e em um esforço grande para se distanciarem dos erros ensinados historicamente por Roma, acabam por diminuir a importância e a natureza do Filho de D-us. Há muita, mas muita ignorância tanto nos meios cristãos como entre esses grupos de “super-judeus messiânicos”. Vamos aprender da fonte, pois apenas um ensino equilibrado e condizente com a Torá e com os Apóstolos poderá contribuir genuinamente para a redenção universal (tikkun olam) anunciando o tão esperado OLAM HABÁ (Era vindoura).
Shalom a todos e que o Eterno tenha misericórdia de todos nós!
http://ensinandodesiao.org.br/artigos-e-estudos/a-identidade-do-messias-e-os-falsos-ensinos/

MEDITAÇÃO DO DIA: 2 Coríntios 4:8,9


2 de abril de 2015

O Verdadeiro Sentido da Páscoa (Pêssach)

Páscoa é a festa que marca o início do calendário bíblico de Israel e delimita as datas de todas as outras festas na Bíblia. Páscoa (Pêssarr, em hebraico) significa literalmente “passagem” (pois o Senhor “passou” sobre as casas dos filhos de Israel, poupando-os. Ex 12:27). É uma FESTA instituída por D-us como um memorial para que os filhos de Israel jamais se esquecessem que foram escravos no Egito, e que o próprio D-us os libertou com mão poderosa, trazendo juízo sobre os deuses do Egito e sobre Faraó. (Ex 12). Páscoa fala de memória, de identidade. O povo de ISRAEL foi liberto do Egito para poder servir a D-us e ser luz para as nações. Páscoa é uma FESTA instituída para que jamais ISRAEL se esquecesse quem foi, quem é e o que deve ser. Da mesma forma,  todos os que são discípulos do Mashiach são co-herdeiros e co-participantes das promessas e das alianças dadas por D-us a Israel, pois através do Evangelho foram enxertados em ISRAEL e são parte do mesmo corpo (judeus e não-judeus), a Família de D-us (Ef 3:6). Daí, conforme o ensino apostólico em I Co 5:8, os discípulos de Yeshua não-judeus podem e devem também celebrar este memorial. O simbolismo da Páscoa é parte da mensagem no Novo Testamento, e toda a obra da Cruz se baseia no evento da Páscoa Judaica. Yeshua não apenas é morto em Páscoa, mas ele simboliza o próprio CORDEIRO pascal (I Co 5:8), que TIRA o pecado do mundo (Jo 1:29) e cujo sangue nos liberta, nos resgata da escravidão do pecado e nos SELA como Seus filhos.  Nele (Yeshua), somos feitos NOVAS CRIATURAS sem o fermento da malícia e da maldade. Como podemos ver, não se pode entender a obra da cruz sem o conhecimento dessa que é a mais simbólica das Festas de D-us. Páscoa fala de nossa LIBERTAÇÃO para servirmos a D-us.

Representação de um Sêder (jantar) de Pêssach dos dias de Yeshua
Como os antigos judeus comemoravam esta data?
Segundo Ex capítulo 12, Páscoa deveria ser celebrada com um jantar familiar, onde um Cordeiro seria assado e comido por todos. O jantar também deveria ter o pão asmo ou sem fermento (matzá, em hebraico) e ervas amargas. O pão sem fermento nos ajuda a lembrar que na noite da Páscoa no Egito, comemos às pressas e o pão não teve tempo de fermentar. As ervas amargas nos lembram de como nossa vida era amarga quando éramos escravos de Faraó. Por volta do ano 550 a.C., os judeus criaram uma seqüência para o jantar (chamada de Hagadá), que incluía o RELATO do Êxodo, os 4 cálices de vinho e o Charosset (pasta doce).  A intenção do mandamento (Ex 12:26) é que TODOS os membros da família participem das narrativas e da liturgia, e que a festa seja uma ferramenta DIDÁTICA para se ensinar às crianças sobre como o Senhor nos libertou com mão forte do Egito. Yeshua, quando celebrou seu último jantar de Páscoa com os discípulos, seguiu exatamente a tradição judaica vigente em sua época e até os dias de hoje. Ele utilizou quase todos os elementos e a seqüência que temos hoje nos lares judaicos. Não apenas isso, mas ele utilizou parte da tradição criada no séc VI a.C. para institucionalizar a Santa Ceia (um Kidush com simbolismo mais rico).
Existem adereços especiais que nos ajudam a ver como a Páscoa era comemorada?
A forma como desde o século VI a.C. os judeus celebram a Festa de Páscoa é praticamente a mesma de hoje. Na mesa temos um prato especial chamado “Keará”. Nele dispomos os elementos do jantar:  Beitsá (um ovo cozido que representa a oferta de Páscoa feita no Templo – Chaguigá), o Zerôa (um osso de cordeiro que representa o Cordeiro Pascal – nos lares judaicos tradicionais não se come cordeiro em luto à destruição do Templo), as ERVAS Amargas (Karpás: batada cozida ou cebola – que representa o duro trabalho dos hebreus no Egito;  o Marôr: gengibre; e o Chazêret: salsão), e o Charôsset (uma pasta doce que se assemelha a um barro – lembrando do barro que os filhos de Israel amassavam no Egito para fazerem tijolos). Além dos elementos do PRATO KEARÁ, temos também TRÊS pães ásmos e 5 cálices de vinho – cada um com um simbolismo diferente.

O Keará (prato de Pêssach) com os elementos do Jantar
Como as famílias devem hoje celebrar esta data?
Os Judeus (sejam eles crentes em Yeshua ou não), celebram esta festa da forma descrita acima pois ela é um estatuto perpétuo (Ex 12:14).  Para os judeus crentes, esta festa é ainda mais especial, pois Yeshua é o nosso Cordeiro Pascal. Mas e os cristãos não-judeus? Temos provas históricas que a Igreja, até meados do séc IVd.C., celebrava a Festa de Páscoa como os judeus (com pães asmos e no dia 14 de Nissan) – I Co 5:8 e Cl 2:16. Algumas obras Patrísticas também atestam a mesma coisa (Peri Pascha – Melito de Sardes – séc II d.C.). Vejam o que escreve Polícrates, então bispo de Éfeso, sobre a celebração de Pêssach. Ele estava argumentando contrariamente à decisão do Bispo de Roma, Papa Vitor I, sobre a imposição de mudança da data e do simbolismo da Páscoa:
“Nós observamos o dia exato, sem tirar nem por. Pois na Ásia grandes luminares também caíram no sono [morreram], (…) incluindo João, que foi tanto uma testemunha quanto um professor, que se deitou no peito do Senhor e (…)  Policarpo, que foi bispo e mártir; e Tráseas, bispo e mártir de Eumênia, que dormiu em Esmirna. Por que precisaria eu mencionar o bispo e mártir Sagaris, que se deitou em Laodicéia, ou o abençoado Papirius ou Melito (…)? Todos estes observavam o décimo-quarto dia da Páscoa judaica de acordo com o evangelho, não desviando em nenhum aspecto, mas segundo a regra de fé. E eu também, Polícrates, o menos importante de todos, faço de acordo com a tradição de meus pais (…) E meus parentes (07 outros bispos) sempre observaram o dia que as pessoas separavam o fermento (…) Pois os que são maiores que eu disseram ‘Nós devemos obedecer a Deus ao invés dos homens…‘ (…)”.  Eusébio sobre a Carta de Polícrates de Éfeso ao Papa Vitor I – História Eclesiástica – Livro V – Cap. 24
A Pascoa Judaica só foi proibida de ser celebrada no Concílio de Antioquia, em 341 d.C, e demorou quase 400 anos até que as pessoas tivessem deixado de vez esta tradição dos apóstolos. Assim, os cristãos de hoje deveriam obedecer ao apóstolo Paulo e seguir o exemplo dos primeiros crentes, realizando em suas igrejas e em suas famílias um jantar festivo, com pão sem fermento, o cordeiro assado e ervas amargas, para se lembrarem de como a vida era amarga antes de conhecermos a Yeshua, e como ele nos RESGATOU com mão forte das garras do inimigo e da escravidão do pecado, e nos fez NOVA CRIATURA sem o fermento do pecado. Deveríamos todos celebrar neste dia como o SANGUE do Messias foi derramado por nós, nos marcando e nos consagrando a D-us.
Um detalhe que também merece destaque é a ordenança na Torá para que nenhum ESTRANGEIRO/ESTRANHO (nechár - נֵּכָר ) participasse da celebração de Pêssach, uma vez que tal fato traria juízo sobre a vida daquele que fosse alheio ao evento e sua conotação material e principalmente espiritual. Se algum estrangeiro ou peregrino (תּוֹשָׁב  tosháv),  estivesse presente às vésperas de um jantar de Pêssach na casa de uma família judaica, este teria que ser circuncidado para poder participar (Ex. 12:43-48). Logicamente, este mandamento continua ainda em vigor. Porém, é importante lembrar das palavras dos profetas de ISRAEL que apregoam que haveria um tempo onde o Eterno APROXIMARIA ao seu povo (Israel) outros povos mediante a sinceridade da escolha em se GUARDAR a Sua aliança. Vejamos:
“Porque o SENHOR se compadecerá de Jacó, e ainda elegerá a Israel, e os porá na sua própria terra; e unir-se-ão a eles os ESTRANGEIROS, e estes se ACHEGARÃO à casa de Jacó”. (Is 14:1)
“Aos ESTRANGEIROS (נֵּכָר ) que se APROXIMAM ao SENHOR, para o servirem e para amarem o nome do SENHOR, sendo deste modo servos seus, sim, todos os que guardam o sábado, não o profanando, e ABRAÇAM A MINHA ALIANÇA, também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios SERÃO ACEITOS no meu altar, porque a minha casa será chamada Casa de Oração para TODOS os povos. Assim diz o SENHOR Deus, que congrega os dispersos de Israel: Ainda CONGREGAREI outros aos que já se acham reunidos”. (Is 56:6-8)
Ou seja, o próprio ETERNO aproximaria e enxertaria em seu povo ISRAEL, OUTROS povos que temem o SEU nome e guardam a SUA aliança. Sabemos que a obra do MASHIACH YESHUA consiste exatamente em APROXIMAR os gentios das promessas e alianças feitas pelo ETERNO a ISRAEL, fazendo-os CO-HERDEIROS e CO-PARTICIPANTES com ISRAEL. Tais gentios, servos do D-us altíssimo mediante a OBRA do Messias, NÃO SE TORNAM JUDEUS, mas sim, passam a fazer parte do POVO de D-us, juntamente com os Judeus. Vejamos como o rabino Shaul (Ap. Paulo) explica esse princípio para gentios crentes no Messias Yeshua:
“Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão (…), naquele tempo, estáveis sem Messias, SEPARADOS da comunidade de ISRAEL e ESTRANHOS às alianças da promessa (…) Mas, agora, no Messias Yeshua, vós, que antes estáveis longe, fostes APROXIMADOS pelo sangue do Messias. (…) E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim, já NÃO SOIS ESTRANGEIROS ( נֵכָר nechár) ou  PEREGRINOS (תּוֹשָׁב  tosháv), mas concidadãos dos santos, e sois da FAMÍLIA de Deus (…)”. (Ef 2:11-19 );
“…os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa através do Mashiach Yeshua,  por meio do evangelho; (Ef 3:6);
Os Gentios que receberam a aproximação e remissão de suas iniquidades através da obra do Messias, são feitos também FILHOS DE ABRAÃO e também são HERDEIROS da PROMESSA, não mediante a descendência sanguínea ou pela CIRCUNCISÃO DA CARNE, mas pela fé: “ E, se sois do MASHIACH, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”. (Gl 3:29) Não é a circuncisão que purifica os gentios crentes em D-us, mas a obra de redenção do Mashiach. Veja uma outra instrução do rabino de Tarso para GENTIOS servos do Senhor Yeshua:
“Nele (Yeshua), também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. E  a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de DOGMAS (δόγμασιν ”dogmas” – leis NÃO-BÍBLICAS  que desprezavam o não-judeu), o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz;” (Cl 2:11-14).  Ou seja, esses gentios em Cristo não são, DE FORMA ALGUMA, ESTRANHOS ou ESTRANGEIROS à fé no D-us de Abraão, Isaque e Jacó. Não são peregrinos nem povos inaptos a adorarem a D-us. SÃO TAMBÉM FILHOS DE ABRAÃO CONFORME A PALAVRA DOS PROFETAS DE ISRAEL.
Assim, o não-judeu que serve ao D-us de Israel através da obra do Messias Yeshua, não se encaixa na proibição de Ex cap. 12, pois não é estranho nem estrangeiro em relação à fé e à aliança de D-us com o seu povo. Ele foi aproximado e feito POVO de D-us juntamente com os judeus (Is 14:1; 56:8). Por isso, o rabino Shaul ORDENA a celebração de Pêssach também aos gentios no Messias em I Co 5:8.

"Coelho" da Páscoa ou Matzá de Pêssach? Qual é a verdadeira tradição Bíblica e Apostólica?
Ovo de páscoa… pode?
A Páscoa Cristã, oficializada pelos pais da Igreja Católica no séc IV d.C.,  foi instituída com o intuito de substituir a Páscoa celebrada por Yeshua e pela Igreja até então. Nos países de língua anglo-saxônica a páscoa cristã é conhecida como “Easter”, mas nos países de língua latina a palavra “Páscoa” foi mantida como uma transliteração da palavra “Pêssach”, em hebraico). O nome “Easter” é proveniente de uma festividade de primavera celebrada por Assírios, Babilônios (e posteriormente Celtas), em adoração a deusa Ishtar (ou Oestre no mundo nórdico). Esta era a deusa da fertilidade, daí ovos e coelhos eram usados como simbolismos. Em outras palavras, qualquer historiador ou qualquer enciclopédia atestará que a origem do ovo é pagã. Se temos a verdadeira Páscoa que era celebrada por Yeshua, pelos apóstolos e pela Igreja até o séc. VI d.C, porque deveríamos adotar costumes pagãos em nossas casas? Será que Yeshua endossaria a troca de ovos enfeitados e coelhos de chocolates? Que cada discípulo de Cristo verdadeiro saiba discernir a Fé que vive e ensina à seus filhos.
Shalom e Chag Pêssach Samêach a todos!
P.S Para ter acesso a toda a sequência do jantar (sêder) de Pêssach, bem como a instrução de celebração com explicações dos  elementos e alimentos utilizados, adquira a Hagadá de Pêssach. Clique aqui.

3 de março de 2015

A Festa de Purim e o Livro de Ester

por Matheus Zandona

O livro de Ester tem representado uma grande incógnita para muitos teólogos cristãos e estudiosos judeus há vários séculos. A principal razão para tal caracterização se dá pelo fato de não se ter mencionado no livro de Ester o nome de D-us; ou seja, o tetragrama não é mencionado sequer uma única vez ao longo do enredo descrito. Mas, porque os sábios e escribas judeus optaram por incluir o livro de Ester entre os escritos sagrados, aceitando sua história como verídica? Quais foram os critérios utilizados para se aceitar o livro de Ester como sendo “divinamente” inspirado?
Se analisarmos com cautela o conteúdo da trama do livro, veremos que as personagens e os eventos ali narrados são comprovados historicamente através de outras fontes escritas, a maioria de origem babilônica e grega. Apesar dos reis persas se casarem apenas com mulheres de linhagens reais e nobres, escritos gregos datados do séc II A.C comprovam que o rei Xerxes I (Assuero), realizou um grande banquete para escolher para si uma nova esposa, já que estava extremamente decepcionado não apenas com a rebeldia da rainha Vasti (Amestris), mas também com as sucessivas derrotas para o emergente império grego. Além disso, a tradição criada em decorrência da história do livro de Ester é guardada por judeus de todo o mundo há mais de 2000 anos através da Festa de Purim (Et 9:27 e 28). Mordechai, primo de Ester, dotado de autoridade real, ordenou que fosse celebrada ao longo das gerações do povo judeu a Festa de Purim (Pur=sorte), nos dias 14 e 15 do mês de Adar, como constante recordação do grande livramento que tiveram os judeus das mãos do malvado Hamân (Hamã). Por isso, a festa de Purim é celebrada por judeus de todo o mundo, até os dias de hoje.

Meguilát Ester (Rolo do Livro de Ester) com ilustrações medievais - Alemanha, séc. XIV
 Mas a pergunta primordial ainda se encontra sem resposta: Porque o nome de D-us não é mencionado no Livro de Ester?
Ibn Ezra, o grande sábio rabino medieval, afirmou que apesar do tetragrama (YHVH) não ser mencionado seque uma vez em Ester, a mão do D-us de Israel é claramente visível nos eventos narrados. O Rabino Ezra ainda vai além ao analisar da seguinte forma a ausência do nome de D-us: “O Sábio Mordechai ordenou para que fosse celebrada a Festa de Purim como memorial entre os judeus da diáspora. Certamente, a história de Purim deveria ser lida durante as comemorações. Os judeus da diáspora habitavam entre povos pagãos, e se o tetragrama fosse utilizado na escrita, certamente esses povos iriam profanar o Santo nome do Eterno, substituindo-o pelo nome de seus deuses. Por isso, nossos sábios do passado optaram por não utilizar a grafia do nome do Eterno no livro de Ester.” A explanação do sábio Ibn Ezra é bem condizente com o que a Torá diz a respeito do nome de D-us, e possivelmente, foi o que ocorreu com o livro de Ester.
Outro livro que compõe os escritos judaicos e que também apresenta o mesmo problema do livro de Ester é o Cântico dos Cânticos, escrito pelo Rei Salomão. Neste livro, não encontramos sequer uma referência ao nome de D-us. Como então justificar sua inclusão entre os livros sagrados, ou a inspiração divina por parte do Rei ? Os sábios judeus da antiguidade chegaram a uma conclusão bem interessante quanto ao Cântico dos Cânticos. Segundo eles, a troca de elogios e o amor idealizado entre o noivo e a noiva, são na verdade, uma alusão do amor de D-us para com Israel, e por isso, a obra pode ser considerada divinamente “inspirada”.

As tradições de Purim incluem a "seudát Purim" (um jantar com os deliciosos "osnêi Haman"), a leitura da Meguilát Ester e "matanôt la-evionim" (doações de alimentos e dinheiro para os mais necessitados da comunidade)
A verdade é que podemos extrair do Livro de Ester grandes princípios e exemplos para nossas vidas. Vemos, ao longo do enredo, que D-us está no controle de nossos destinos, e que Ele sempre se apresenta como El Yeshuá, ou seja, o D-us que salva, disposto a ouvir as orações dos seus servos quando em situações impossíveis de serem resolvidas aos olhos dos humanos. Vemos também a sabedoria de Ester e de seu primo Mordechai, os quais souberam fazer uso de sua posição e status para abençoar a muitos. Além disso, o livro de Ester nos mostra que muitas vezes devemos lutar para obter a vitória assim como fizeram os judeus habitantes da Babilônia, e não apenas nos acomodarmos “esperando” um milagre. Como diz o velho ditado judaico: “creia nos milagres, mas não dependa deles”!
Chag Purim Sameach! (Feliz Festa de Purim)!

P.S quem saber mais sobre a Festa de Purim e seus segredos? Clique aqui

Autor: 
Descendente de Judeus italianos que imigraram para o Brasil no século passado, Matheus é graduado em Comunicação Social e em teologia com ênfase em Estudos Judaicos (EUA). Formou-se em hebraico e arqueologia bíblica em Israel, atuando como professor na Sinagoga Har Tzion (em BHte) há mais de 20 anos. Criador do site www.escoladehebraico.com, um portal para ensino do Hebraico Bíblico e Cultura judaica que já formou mais de 2000 alunos no Brasil e no mundo. É também cantor e compositor, tendo gravado três CDs de músicas judaicas. Atualmente é vice-presidente do Ministério Ensinando de Sião – Brasil, diretor do CATES (Centro Avançado de Teologia Ensinando de Sião) e um dos líderes da Sinagoga Har Tzion. (facebook.com/mzandonna Twitter: @mzandonna)
http://ensinandodesiao.org.br/artigos-e-estudos/a-festa-de-purim-e-o-livro-de-ester/

4 de fevereiro de 2015

Cidadania portuguesa para descendentes dos judeus Sefaraditas. O que você precisa saber?

No dia 30 de janeiro de 2015, o Governo Português aprovou o Projeto de Lei 43/2013, incluindo-o no artigo 169 da Constituição portuguesa. No dia seguinte dei entrevista ao Jornal O Globo e recentemente gravei uma entrevista para a Rede Cultura e seu jornal televisivo de transmissão nacional.
O que diz a Lei especificamente para os descendentes de judeus da Inquisição?
O Governo português aprovou um decreto-lei que dá nacionalidade portuguesa aos descendentes de judeus Sefaraditas que tenham sido expulsos de Portugal a partir do séculoXV devido às atrocidades e crueldades da Inquisição.
“Não se trata de reparação histórica. Não há possibilidade de reparar o que foi feito. Trata-se da atribuição de um direito”, declarou a Ministra da Justiça de Portugal.
Então vamos ver o que diz a lei (Capitulo II – Secção III – artigo 6o.- Item 7):
“O governo pode conceder a nacionalidade por naturalização com dispensa dos requisitos previstos nas alíneas b e c do número 1 aos descendentes de judeus SEFARADITAS ATRAVÉS DA DEMONSTRAÇÃO DA TRADIÇÃO DE PERTENÇA A UMA COMUNIDADE SEFARDITA DE ORIGEM PORTUGUESA, COM BASE EM REQUISITOS OBJETIVOS COMPROVADOS DE LIGAÇÃO A PORTUGAL, DESIGNADAMENTE APELIDOS, IDIOMA FAMILIAR, DESCENDÊNCIA DIRETA OU COLATERAL.”
Apesar da boa intenção do Governo Português, milhares de brasileiros descendentes dos cristãos-novos (judeus obrigados à conversão ao catolicismo) ficarão de fora desta Lei. Ou seja, esta lei do jeito que foi publicada elimina mais de 98% dos interessados. Por que?
Vamos, então, tentar analisar alguns pontos desta lei, como:
I) A INFLEXIBILIDADE DA LEI PARA OS DESCENDENTES DE CRISTÃOS-NOVOS PORTUGUESES
1. Primeiro, nota-se que a lei não menciona a palavra Inquisição e nem o termo Cristão-Novo (Sefaradita obrigado à conversão forçada). Mas, ela exige que o descendente Sefaradita pertença a uma comunidade judaica sefardita de origem portuguesa. Ou seja, parece que eles querem aplicá-la somente a judeus Sefaraditas portugueses que vieram no inicio do século XX para o Brasil oriundo de países onde não existiu a inquisição, como Marrocos, Holanda, etc. É a primeira percepção que temos quando lemos o parágrafo acima (a falta de clareza desta lei levou um rabino da comunidade Sefaradita de São Paulo a afirmar na entrevista para o Jornal Globo que há somente 40 mil judeus Sefaraditas no Brasil, deixando claro que não se pensou nos milhares e milhares de cristãos-novos brasileiros que estão ansiosos por resgatarem suas raízes judaicas de seus ancestrais expulsos de Portugal). Sabe-se que as primeiras sinagogas brasileiras foram fundadas no final do séc. XIX (Rio) e inicio do século XX (SP). Assim, esta exigência exclui quase 100% os Cristãos-Novos (Anussim ou Marranos) que chegaram ao Brasil há 5 séculos desde a época de Fernando de Noronha, primeiro judeu cristão-novo que trouxe consigo milhares de outros compatriotas cristãos-novos para colonizar o Brasil. Daí para frente, muitos outros milhares de Anussim continuaram chegando ao Brasil, atraídos pela “liberdade” do mundo novo, pela riqueza da terra boa, pelos grandes engenhos que produziam açúcar e mais tarde pelas minas de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais.
2. Segundo, como exigir hoje de um descendente uma judaicidade sabendo que todo cristão-novo era proibido de praticar qualquer rito judaico aqui no Brasil por mais de 300 anos? (pois a Inquisição brasileira só acabou em 1821). Ou seja, durante este período era totalmente proibida a construção de qualquer sinagoga ou Comunidade Sefaradita. Então, como exigir agora que tal descendente pertença à uma Comunidade Sefaradita?
3. Com a cruel proibição, todo descendente de cristão-novo foi assimilado, restando a este, além dos sobrenomes herdados, somente algumas tradições e costumes judaicos existentes até nos dias de hoje.
4. Muitos descendentes de cristãos-novos guardam histórias de seus familiares. Ou seja, temos histórias e não documentos. É impossível exigir documentos de um cristão-novo, uma vez que a inquisição eliminou e proibiu qualquer tipo de continuidade judaica.
5. Se hoje existem descendentes de judeus Sefaraditas portugueses da época da inquisição que são membros de alguma comunidade Sefaradita, com certeza houve algum processo de conversão ao judaísmo, ou de seus pais ou seus avós, pois as sinagogas no Brasil começaram a partir do século XX (exceto a de Recife fundada pelos judeus portugueses-holandeses que teve curta duração, fechando as portas em 1654 com a expulsão dos holandeses do nordeste brasileiro).
6. Assim, esta lei precisa clarificar este ponto, pois tornou-se inviável ao exigir provas documentais e filiação à uma comunidade Sefaradita brasileira. Ou seja, não se tem documentação comprobatória porque era proibido ao indivíduo manter quaisquer sinais judaicos, sendo o mesmo sujeito a processos, julgamentos, extradições, condenações e execução nas fogueiras de Lisboa.
II) O QUE TEMOS HOJE:
1. A grande maioria dos descendentes dos Sefaraditas portugueses foram 100% assimilados e nem sequer receberam informações das raízes judaicas de seus ancestrais. Porém, há uma parte que recebeu informações e costumes familiares, puramente por tradição oral, passada de pai para filho. E outros, neste momento, que este assunto aflora, tem procurado e investigado suas raízes judaicas. Talvez podemos chegar a um número surpreendente, milhares de milhares que desejam restaurar as raízes de seus ancestrais.
2. Como atender e ajudar os interessados a descobrir suas raízes judaicas portuguesas? Nós da ABRADJIN (Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição), pensamos que a Comunidade Judaico Portuguesa deveria estudar e analisar melhor a nossa história (criando comitês e grupos acadêmicos,p.ex.) Sabe-se que existem quase 40 mil processos do Tribunal do Santo Ofício disponíveis na Torre do Tombo em Lisboa, pertencentes ao Arquivo Nacional. Lá existem grande parte de nossa sofrível história, quando nossos bens foram confiscados, nosso povo torturado, desonrado e humilhado. Roubaram a nossa identidade e com ela nossa dignidade. É importante salientar que tudo o que sabemos hoje tem origem na análise de somente mil processos da Inquisição, conforme relatam renomadas historiadoras como Dra. Anita Novinsky, Neusa Fernandes e outros. E os outros milhares de processos que nunca foram analisados? Quanta documentação ainda continua escondida?

Pintura que retrata a expulsão dos judeus de Portugal - 1497
III) O QUE ESTAMOS FAZENDO NESTE MOMENTO:
1. Fundamos a Abradjin (Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição)  á 15 anos com o objetivo de conhecer e associar esses descendentes, coletando suas histórias, suas trajetórias e lutas. Hoje, a Abradjin conta com mais de 1500 associados e mais de 4000 já fizeram algum contato conosco buscando informações de uma possível ascendência judaica.
2. A Abradjin conta com uma biblioteca com mais de 400 volumes sobre a história dos cristãos-novos, análises e comentários de processos da Inquisição e vários títulos sobre o tema.
3. Fundamos há dois anos o primeiro MUSEU DA HISTÓRIA DA INQUISIÇÃO NO BRASIL com o intuito de trazer à memória essa história não contada em nossos livros, mostrando alguns processos, gravuras de pintores famosos, pequenos objetos ainda do tempo da Inquisição e, sobretudo, promovendo o combate à intolerância religiosa, o direito de crença e a dignidade humana. Estamos trazendo à memória aquilo que possa nos trazer esperança.
4. É possível ter acesso aos documentos da Torre do Tombo e colher milhares de novas informações sobre o destino desses Sefaraditas portugueses e brasileiros, uma vez que mais de 85% das vítimas da inquisição foram judeus. Portanto, esta nova lei precisa valer-se desse rico e único acervo.
IV) O QUE PODE VIR NO FUTURO
1. A Comunidade Judaico Portuguesa e mesmo brasileira precisa ter acesso e estabelecer novos critérios para os anussim (nome dado em hebraico aos judeus forçados à conversão) que desejam cidadania portuguesa, baseados nos milhares de processos da inquisição;
2. Valer-se dos exames de DNA que podem indicar se uma pessoa descende de europeus, indo-europeus, asiáticos, ameríndios,etc. e mesmo de semitas, que incluem árabes e judeus. A esperança é que este tipo de exame seja aperfeiçoado e ajude os descendentes de judeus Sefaraditas na restauração de suas raízes.
3. Que parte de nossas histórias e memórias sejam transformadas em documentos que possam ser aceitos e válidos quanto a Lei do Retorno, tanto para Portugal como para Israel.

Típico Sêder de Pêssach Sefardita
V) O QUE QUEREMOS
1. Que Israel siga o mesmo exemplo de Portugal e ofereça a esses descendentes cidadania na única nação judaica do planeta.
2. Se um Anussim (Cristão-Novo) pudesse escolher entre uma cidadania portuguesa ou uma israelense, com certeza a maioria escolheria Israel, a terra de seus ancestrais. Mas, precisamos deixar livre esse direito de escolha. Portugal fez muito bem dar o primeiro passo e com certeza essa cidadania abrirá porta para aqueles que optarem por Israel.
3. O que queremos é o resgate de uma identidade que nos foi roubada, sendo nós parte do povo judeu. Isto não significa necessariamente resgatar algum ramo da religião judaica, neste primeiro passo. Deve-se preocupar primeiramente com a restituição da identidade perdida e a concessão dos direitos suprimidos no passado. A crença individual de cada descendente jamais deve ser um fator eliminatório ou desqualificador.
4. Portanto, esperamos e lutamos pelo resgate de nossa identidade judaica que nos foi roubada e arrancada por decretos inquisitoriais. E assim procedendo, devemos neste momento resistir a uma conversão forçada à qualquer linha da religião judaica, pois isto seria negar todo o legado e sofrimento histórico carregado por nossos ancestrais, apagando o sangue derramado que ainda clama por justiça. Não podemos ser tratados como se não tivéssemos vínculos com o povo de Israel. Já fomos forçados uma vez e agora queremos o direito de escolha, quando qualquer um de nós poderá resgatar sua identidade judaica e viver como judeu na terra de Israel ou fora dele da forma e no estilo de fé que mais o identifica com a história de seu povo, o povo da Bíblia.
Portanto, Kadima! (Avante)! nossa luta continua.
Marcelo Miranda Guimarães
Fundador e diretor da Abradjin e do Museu da História da Inquisição

24 de setembro de 2014

PENSEM ANTES DE VOTAR, MINHA GENTE. FORA DILMA. FORA PTralhas.

A presidente Dilma Rousseff discursa em Nova York, nos Estados Unidos
http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/dilma-diz-lamentar-bombardeio-dos-eua-contra-terroristas

MOLDANDO PÃO DE VÁRIAS FORMAS


MODELAGEM DE PÃO EM VÁRIAS FORMAS

Publicação by ‎איריס כהן‎.


29 de março de 2014

BRASIL, GUERRILHA E TERROR - A Verdade Escondida. (+playlist)

É BOM REVER O PASSADO PARA ENTENDER O PRESENTE E PARA NÃO ERRARMOS NO FUTURO. Hoje, qualquer semelhança NÃO é mera coincidência. ACORDA, POVO!

18 de março de 2014

SALVO PARA OBEDECER

por Matheus Zandona
Atualmente, vemos cristãos de vários segmentos com uma enorme dificuldade de compreenderem como a graça perdoadora do Eterno pode caminhar junto com a obediência às Suas Leis. Muitos se perdem em descontextualizações dos vários discursos de Yeshua e seu discípulo Shaul (Paulo), apregoando um evangelho sem esforço, sem busca por santidade, sem bons frutos, sem boas obras, sem nada! Percebemos então um dos maiores problemas com o cristianismo de nossos dias: as pessoas não tem problema em aceitar Jesus (Yeshua) como Deus, mas não conseguem aceitá-lo como REI. Isso ocorre pois REIS demandam fidelidade e obediência, assim como Yeshua exige de nós. A má compreensão da obra do Messias e sua Graça tem ofuscado a importância da obediência nos meios cristãos. Porém, Yeshua é claro ao enfatizar a necessidade da BUSCA por santidade e obediência para agradarmos a Deus, uma vez já alcançados pela Sua graça. Não dá pra “varrer” esse ensino pra debaixo do tapete, como muitos teólogos tentam fazer. Ao recebermos a ele como nosso Senhor, recebemos também a medida de fé e graça para perseverarmos em BOAS OBRAS. Quem não se esforça e não tenta dar o seu melhor, não honra o sacrifício feito por ele. É como sempre digo: “Eu não obedeço a Deus para ser salvo, eu obedeço a Deus porque SOU salvo.”
A soteriologia sem raízes tem causado uma impressão errônea do que significa ser “salvo” pela graça de Deus. Os reformistas do séc. XVI apregoavam um conceito de predestinação à salvação estranho à Bíblia e aos ensinos de Yeshua, defendendo-a sob um prisma exclusivista (e por que não racista) nos meios protestantes. Porém, contrariando tais ensinos medievais, Yeshua não deixa dúvida alguma sobre a necessidade de valorizarmos nosso chamado e nossa salvação: “Se vós PERMANECERDES na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8:31-32).
Há um outro texto dito pelo próprio Deus ao profeta Ezequiel que traz luz e entendimento a essa questão. Vejamos: “Tu, pois, filho do homem, dize aos filhos do teu povo: A justiça do justo não o livrará no dia da sua transgressão; quanto à perversidade do perverso, não cairá por ela, no dia em que se converter da sua perversidade; nem o justo pela justiça poderá viver no dia em que pecar. Quando EU disser ao justo que, certamente, viverá, e ele, confiando na sua justiça, praticar iniquidade, não me virão à memória todas as suas justiças, mas na sua iniquidade, que pratica, ele morrerá. Quando EU também disser ao perverso: Certamente, morrerás; se ele se converter do seu pecado, e fizer juízo e justiça, e restituir esse perverso o penhor, e pagar o furtado, e andar nos estatutos da vida, e não praticar iniquidade, certamente, viverá; não morrerá. De todos os seus pecados que cometeu não se fará memória contra ele; juízo e justiça fez; certamente, viverá. Todavia, os filhos do teu povo dizem: Não é reto o caminho do Senhor; mas o próprio caminho deles é que não é reto. Desviando-se o justo da sua justiça e praticando iniqüidade, MORRERÁ nela. E, convertendo-se o perverso da sua perversidade e fazendo juízo e justiça, por isto mesmo VIVERÁ.”(Ez 33:12-19)

Os pais da reforma protestante (Calvino e Lutero) cunharam um conceito de predestinação contrário aos Ensinos de Yeshua e dos profetas de Israel
Assim, aprendemos com os profetas de Israel e com o Messias Yeshua que a salvação é dom de Deus, mas pode sim ser perdida caso a pessoa volte à transgressão e ao pecado. É verdade que todos pecamos e carecemos da graça de Deus, mas isso não deve ser usado para vivermos uma vida de pecado e sem novidade de vida, sem santidade e sem oferecermos a Deus o nosso melhor. Yeshua foi claro ao dizer que “todo ramo que, estando em mim, não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado; PERMANECEI em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, SE não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, SE não permanecerdes em mim“. (Jo 15:2-4).
Ou seja, depois de alcançados pela Graça de Deus somos ordenados a PERMANECER no caminho da Salvação. E isto é feito mediante a obediência e fidelidade à Deus e aos Seus mandamentos. Paulo afirma: “Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso FRUTO para a SANTIFICAÇÃO e, por fim, a vida eterna; porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:21-23 )
Deixo claro para todos os leitores que NÃO somos salvos pelas obras, PORÉM, OBRAS são esperadas dos que foram salvos. Não há como sair desse princípio. Alguém que está na videira DEVE produzir bons frutos. Não fomos salvos por que merecíamos, mas uma vez alcançados por Deus, BONS FRUTOS são esperados de nós. O texto de Ezequiel 33 é claro, e não há como retirá-lo de contexto pois o mesmo está claro por si próprio. SOMOS SALVOS PELA GRAÇA PARA ANDARMOS EM NOVIDADE DE VIDA (SANTIDADE, FRUTOS, ETC.). Quem é salvo pela graça e opta por VOLTAR aos caminhos do pecado, deve se arrepender e voltar, pois se permanecer no pecado, NO PECADO MORRERÁ. Deus é amor, mas também é justiça. Ele sabe que jamais poderemos ser 100% justos, mas Ele julga o nosso coração e a nossa atitude. Eu não sou perfeito, mas luto e me empenho para ser e farei isso até o dia de minha morte! Eu peco, mas luto e me empenho para jamais pecar! Esta deve ser a intenção do coração de quem busca a justiça de Deus, a verdadeira “KAVANÁ” que os sábios de Israel tanto nos ensinam.  Quem ama obedece e luta para ser irrepreensível para AGRADAR aquele que nos salvou. “Se me amais, GUARDAREIS os meus mandamentos” (Jo 14:15). E ainda, “Aquele que TEM os meus MANDAMENTOS e os GUARDA, este é o que me ama!” (Jo 14:21). Segundo Yeshua, não existe amor sem obediência e sinceridade de coração.
É isso que se espera de quem já foi SALVO pela graça: AMOR, OBEDIÊNCIA e busca por SANTIDADE. A salvação é um DOM, e como todo dom, pode ser negligenciado e desprezado por quem o recebeu. O autor de hebreus expressa isso muito bem: “Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e PRODUZ erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, É REJEITADA e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada. Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira. Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos. Desejamos, porém, CONTINUE cada um de vós MOSTRANDO, até ao fim, a mesma DILIGÊNCIA para a plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas”. (Hb 6:7-12)
Quem tem ouvidos para ouvir… ouça!!! Que possamos sempre buscar o entendimento da Palavra de Deus em seu contexto original, sem sofismas ou deturpações de homens, vivenciando as revelações do Espírito do Deus vivo. Restauração JÁ!!!

Autor: 
Descendente de Judeus italianos que imigraram para o Brasil no século passado, Matheus é graduado em Comunicação Social e em teologia com ênfase em Estudos Judaicos (EUA). Matheus foi também mestrando em Estudos Judaicos pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Formou-se em hebraico e arqueologia bíblica em Israel, atuando como professor na Congregação Har Tzion por mais de 15 anos. Criador do site www.escoladehebraico.com, um portal para ensino do Hebraico Bíblico e Cultura judaica que já formou mais de 2000 alunos no Brasil e no mundo. É também cantor e compositor, sendo fundador do Ministério Hallel – Louvor e Adoração Judaico-Messiânico. Atualmente é vice-presidente do Ministério Ensinando de Sião – Brasil e diretor do CATES (Centro Avançado de Teologia Ensinando de Sião).

O Shabat e a restauração do povo de Deus


Torá em Debate - Os Anussim e seu retorno a Israel



As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam. (Cânticos 8:7)




23 de dezembro de 2013


quarta-feira, 20 de novembro de 2013


Deus não está Morto, filme lançamento em 2014 já é sucesso na internet

Uma das grandes promessas de sucesso para filmes cristãos em 2014 é God’s not Dead [Deus não está morto]. Seu roteiro é baseado na faixa-título do último CD do grupo gospel Newsboys.

O trailer do longa está atraindo muita atenção no Facebook. O roteiro mostra um debate sobre a existência de Deus e a defesa da fé no ambiente universitário. Até agora, foram cerca de 5 milhões de acessos, mais de 1 milhão de curtidas e o material foi compartilhado mais de 700.000 vezes.

A LifeWay Films está trabalhando com igrejas de todos os Estados Unidos para que se envolvam com a divulgação do filme. O alvo principal são os estudantes cristãos que estão na universidade, pois é nessa época que estatisticamente a maioria deles se afasta da fé ou mesmo abandona a igreja.

O ator e produtor David AR White vive o como o pastor Dave, que acompanha Josh Wheaton, (Shane Harper) durante  seu primeiro semestre na faculdade. A fé de Josh é testada nas aulas do professor de filosofia Dr. Radisson (Kevin Sorbo).

Ele exige que todos os seus alunos assinem uma declaração dizendo: “Deus está morto”. Só assim receberão aprovação no final do semestre. Quando Josh se recusa, é desafiado por Radisson a defender sua crença que Deus está vivo em uma série de debates com o professor durante as aulas. Na verdade, Radisson foi crente na juventude mas perdeu a fé quando seu irmão morreu de câncer e ele culpa Deus até hoje.

O filme conta com participações especiais do grupo Newsboys, que canta durante o filme. Seus atores principais são conhecidos do grande público. Harper fazia parte do seriado da Disney “Boa Sorte, Charlie” e Sorbo protagonizava a série Hércules na década de 1990. Há uma participação especial de Dean Cain, intérprete do Super-Homem no seriado Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman.

Segundo os redatores, a inspiração veio da letra da música dos Newsboys, God is not dead (like a lion) que diz “Meu Deus não está morto/Ele certamente vive/Está vivendo no meu interior/Rugindo como um leão/Deixe a esperança surgir e acabar com a escuridão/Minha fé está morta/Eu preciso de uma ressureição /Deixe o céu rugir e o fogo cair/Deixe o chão tremer/Com o som do avivamento”.

Com informações Charisma News e GospelPrime

25 de setembro de 2013

Uma lição para a professora

Categorias : Historias

Uma lição para a professora.
Faltavam dois anos para eu me tornar mãe quando recebi a maior lição de como criar filhos. Essa informação não veio de um livro da lista dos mais vendidos do New York Times, de um pediatra famoso nem de um pai experiente. Veio de um menino de 10 anos, filho de mãe viciada em drogas, com um plano de educação individualizada que tinha tantas páginas quanto uma enciclopédia – um menino com cicatrizes permanentes no braço esquerdo por causa de uma surra com um fio elétrico quando tinha 3 anos. Kyle* me ensinou a única coisa que eu realmente precisava saber sobre amar uma criança nas dificuldades da vida: estar presente.
Aceitei o cargo de professora de alunos de 6 a 12 anos com graves dificuldades de aprendizagem e comportamento, que tinham passagem por várias escolas. Até então nenhum programa do distrito conseguira atender às suas necessidades. Outra professora e eu tínhamos passado semanas ensinando às crianças o comportamento apropriado em público. Naquele dia específico, jogaríamos golfe em miniatura e almoçaríamos num restaurante. Milagrosamente, apenas alguns alunos, entre os quais Kyle, não tinham merecido o privilégio de ir. Ele estava decidido a fazer com que todos soubessem do seu desapontamento.
No corredor entre as salas de aula, Kyle começou a gritar, praguejar, cuspir e derrubar tudo o que estivesse ao seu alcance. Assim que a explosão passou, ele fez o que sempre fizera ao se zangar em todas as outras escolas, em casa e até, certa vez, num centro de detenção juvenil. Fugiu.
A multidão de espectadores que se reunira durante a cena observou com descrença Kyle atravessar correndo o intenso tráfego matutino diante da escola. Ouvi alguém gritar:
– Chamem a polícia!
Mas não consegui ficar ali parada. Corri atrás dele. Kyle era pelo menos um palmo e meio mais alto que eu. E veloz. Os irmãos mais velhos eram astros na pista de corrida da escola secundária vizinha. Mas eu calçara tênis para o passeio e era capaz de correr longas distâncias sem me cansar. Pelo menos conseguiria ficar de olho nele para ver se estava vivo.
Depois de vários quarteirões correndo no sentido contrário ao trânsito, Kyle desacelerou o ritmo. Embora ainda fosse cedo, o sol tropical atingia em cheio o asfalto negro. Ele dobrou à esquerda e começou a andar por uma galeria de lojas dilapidada. Ao lado de um compactador de lixo, Kyle abaixou o corpo, as mãos nos joelhos. Ofegava para recuperar o fôlego quando me viu. Eu devia estar ridícula: a frente da blusa encharcada de suor, o cabelo antes arrumado agora grudado no rosto corado como beterraba. Ele se levantou de repente como um animal assustado.
Mas o olhar não era de medo. Vi seu corpo relaxar. Ele não tentou correr de novo. Ficou ali parado e observou minha aproximação. Eu não fazia ideia do que diria ou faria, mas continuei chegando mais perto.
Nossos olhos não se desviaram e, do fundo do coração, enviei toda a minha compaixão e compreensão na direção dos seus olhos. Quando ele abriu a boca para falar, um carro de polícia parou de repente, preenchendo o espaço entre nós dois. O diretor da escola e um policial saíram do carro. Conversaram calmamente com Kyle, que entrou de boa vontade no banco de trás do veículo. Não consegui ouvir o que foi dito, mas não tirei os olhos do rosto de Kyle, nem quando eles se afastaram.
Kyle acabou voltando à escola, e logo notei que, quando podia escolher o professor com quem deveria trabalhar ou que precisaria acompanhá-lo em aulas especiais, ele me escolhia.
Certo dia, Kyle segurou a minha mão inesperadamente. Não era comum que um garoto da sua idade e do seu tamanho pegasse a mão da professora, mas eu sabia que devia me comportar como se fosse a coisa mais normal do mundo. Ele se inclinou para a frente e disse baixinho algo que nunca esquecerei. “Dona Rachel, amo a senhora”, sussurrou. “Eu nunca disse isso a ninguém.”
Parte de mim queria perguntar: “Por que eu?” Mas simplesmente apreciei o momento, uma mudança inimaginável para uma criança cuja ficha continha as seguintes palavras: “Incapaz de exprimir amor e de manter relações afetivas com outros seres humanos.”
A situação mudou no dia em que ele fugiu e corri atrás dele, embora eu não tivesse as palavras certas, nem tivesse conseguido salvá-lo da encrenca em que se metera. Foi o dia em que não desisti, em que decidi não pensar simplesmente que ele era rápido demais, que era perda de tempo e esforço, que era uma causa perdida. Foi o dia em que o mero estar presente bastou para fazer uma profunda diferença.
A escritora e palestrante Rachel Macy Stafford mora no Alabama, Estados Unidos, com o marido e duas filhas.
 Fonte: http://www.selecoes.com.br/uma-licao-para-a-professora#sthash.xiiDbJyY.dpuf